12 novembro, 2005

O sonho dos simétricos

A razão, sempre superficial, reflectiu durante algum tempo sem resultado e ordenou que a arte fosse cortada em duas: metade para cada extrínsecos. Uma memória, velha mas de perfeita saúde, tendo ouvido a sentença, lembrou-se de perguntar: “E se a razão, por sua vez, sonhou que partilhava a arte?” Então, como se tratava da memória, discutiram acaloradamente uma vez mais. Mas sem resultado. Ninguém pode verdadeiramente distinguir entre sonho e realidade. Os velhos sábios talvez tivessem sido capazes: mas já não existem.

Marquês de Rubbatto – “O sonho dos simétricos”
Mundos Paralelos

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Fronteira entre o sonho e a razão

É múltipla a imagem sempre, embora seja única. Um duplo, causa de alteração daquele perante quem se apresenta. Sempre chega, embora se tenha assistido à sua formação, com ânsias de apoderar-se tal como se pedisse, ela também, para existir, como escapada de um reino onde somente o ser e a vida cabem. Mas a realidade, isso que se chama realidade, é continuamente uma imagem. “De si mesma”, poderia dizer-se em seguida, deslizando sobre a aparente identidade das folhas e do fogo apagado, convertidas em rio ou em cascata quando alguém as vê. Quando alguém as vê nessa fímbria que oferece a realidade, que não limitar-se a ser “nua, estrita realidade”, e se pede como uma mendiga por vezes, como uma serva sempre, mesmo quando se imponha para se completar. Pois a realidade que ao ser humano se oferece não acaba de o ser; real só de modo incompleto e às vezes, irreal por assombrosa, por se ultrapassar a si mesma, pede.

Maria Zambrano – “Clareira do Bosque”; O Deslizar das Imagens, pag. 39

Andrey Alexandrovsky

Mask

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Criatividade

Fala-se em criatividade a respeito de uma obra de arte. Que representa isso ao lado da energia criadora que agita um homem mil vezes por dia, fervilhar de desejos insatisfeitos, fantasias que se buscam através do real, sensações confusas e contudo luminosamente precisas, ideias e gestos portadores de transformações sem nome. Tudo isso votado ao anonimato e à pobreza de meios, encerrado na sob(re)vida ou obrigado a perder a sua riqueza qualitativa para exprimir-se conforme às categorias do espectáculo. …
Pense cada qual, com maior precisão, na incrível diversidade dos seus sonhos, paisagens muito mais coloridas que as mais belas telas de Van Gogh. Pense no mundo ideal construído sem descanso sob o seu olhar enquanto os gestos percorrem uma vez mais o caminho banal.

Raoul Vaneigem – “ A arte de viver para a geração Nova”
Instante

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